Fundamentos do Futsal

Habilidade: Domínio
Domínio é a habilidade de recepcionar a bola. O objetivo do professor ao ensina-la é o de levar a criança a recepciona-la com as diversas partes do corpo. O professor Ricardo Lucena¹ , até onde eu sei, foi quem tornou conhecida a classificação desta e de outras habilidades. Entretanto, antes dele, o professor Paulo César Mussalem² propôs algumas classificações para determinadas habilidades. Por conta da completude da abordagem do primeiro professor, optarei pelas suas classificações.
Quanto à Trajetória Quanto à Execução (Recepção)
Rasteira Com os pés, faces interna, externa e também com o solado.
Meia-altura Com os pés e a coxa, faces interna e externa.
Parabólica Com os pés, utilizando o dorso e o solado; Com o peito, a coxa e a cabeça.
Julgo ser relevante construir alguns conhecimentos com a criança que aprende a dominar a bola. São eles:
a) Ensinar que se deve relaxar a parte do corpo que fará o contato com a bola;

b) Ensinar que se deve manter a bola perto de si, para dar seqüência ao jogo, seja passando, chutando, driblando, conduzindo;

c) Ensinar que se deve adequar o corpo à trajetória da bola, isto é, não é adequado querer dominar com o peito uma bola que vem à meia-altura, nem dominar com a coxa uma bola que vem alta;

d) Levar a criança a dominar com todas as partes do corpo possíveis;

e) Ensinar com bolas de diferentes pesos e tamanhos, de acordo com a possibilidade da criança.

Habilidade: Controle
Controlar a bola é diferente de domina-la. Enquanto esta ação trata-se da recepção da bola, aquela se refere a mantê-la no ar, com toques de uma e de outras tantas partes do corpo, sem deixa-la cair ao chão. É o que as crianças chamam de embaixadinhas.

Portanto, quem ensina a controlar tem o objetivo de orientar a criança a manter a bola no ar pelo maior tempo possível. E isso não é nada fácil. Acompanham o ensino do controle de bola algumas orientações:
a) Adequar o material às possibilidades motoras da criança. Por exemplo, utilizar bolas maiores e leves ou até bexigas. Introduzir progressivamente outras bolas;

b) Orientar a criança a tocar na bola suavemente;

c) Orientar a criança a não tentar tocar a bola com os pés quando esta estiver na altura da sua coxa, do seu peito;

d) Orientar a diversificar as partes do corpo;

e) Orientar que se deve ser paciente e tentar ações novas.
Habilidade: Condução
A condução é quando se leva a bola pela quadra de jogo. Quem ensina a conduzir objetiva ensinar a melhor maneira de se fazer isso. Entenda-se por melhor, o modo mais eficaz. Uma regra básica: a bola deve estar próxima do condutor.

Essa condução pode ser feita em linha reta, daí o nome de retilínea. Também em ziguezague, e, portanto, sinuosamente. Sugiro evitar o ensino da condução de bola com o solado do pé, a não ser quando a condução for de costas. De frente, é ineficaz. As outras faces para se conduzir são interna e externa.

Descrevo algumas orientações para ensinar a conduzir:
a) Ensinar que bola é mais empurrada do que batida, isto é, toca-se levemente na bola e várias vezes;

b) Ensinar que se deve manter a bola próxima ao corpo, que tem uma relação com a orientação anterior, a fim de que o adversário não a roube;

c) Ensinar que a bola fica à frente de quem conduz - daí evitar a condução de frente com o solado;

d) Ensinar que se deve visualizar o espaço à frente, portanto deve-se levantar a cabeça. Estas duas últimas orientações (c e d) permitirão à criança dar seqüência a outras ações, como o passe, o drible e o chute;

e) Levar a criança a conduzir a bola, num primeiro momento, com êxito absoluto. Para isso, utilizar bolas maiores ou mais pesadas ou que não saltem. A bola de futsal é adequada. Introduzir progressivamente outras bolas que exijam mais do aluno;

f) Levar a criança a conduzir a bola com diferentes faces do pé, de diferentes formas e em diferentes trajetórias.

Habilidade: Chute
O chute surge quando do contato da criança com a bola em direção à meta adversária ou para afastar o perigo de um ataque adversário. O primeiro seria o chute com o objetivo ofensivo. O segundo, com o objetivo defensivo. Logo, chute sempre é a mesma coisa, o que muda é o objetivo.

Penso que quem ensina a chutar o faz em cima dos tipos de chutes que visam acertar a meta adversária. Quanto aos defensivos, acontecerão, por evidência, quando do ensino da marcação e da antecipação.

Alguns fatores interferem na maneira de chutar. A maior parte dos autores diz que, além do equilíbrio e da força, o pé de apoio, que deve estar ao lado ou atrás da bola, o pé de chute, que quanto maior a superfície deste em contato com a bola, maior será a direção do chute e o posicionamento do tronco, que se inclinado para frente, tender-se-á a sair um chute com a trajetória da bola rasteira e, se inclinado para trás, tender-se-á a sair um chute com a trajetória da bola alta, interferem no chute. De minha parte, penso que o professor que ensina uma criança a chutar não deve se preocupar com isso, pois se a criança estiver com as habilidades básicas constituídas - locomoção, manipulação e estabilidade -, não haverá maiores dificuldades para chutar. Criança muito pequena é que precisa encontrar no professor a compreensão necessária para que, sem pressa, possa desenvolver o chute.

Quando digo que os professores não precisam se preocupar com a técnica ideal do chute, não digo que ela não esteja correta. Apenas ratifico a minha posição de que essas coisas, se colocadas em aula de crianças, mais atrapalham do que ajudam. Não dá nem para imaginar alguém dizendo todas estas coisas para quem chuta. Eu, por exemplo, nunca vi uma criança colocar o pé na frente da linha da bola para chutar!

Quais seriam as possíveis trajetórias de chute? Rasteira, meia-altura e alta. Como se faz para obter essa trajetória? No primeiro caso, chuta-se em cima da bola, no segundo, no meio e, no terceiro caso, embaixo.

E, já que falamos das trajetórias do chute, quais seriam os tipos, as maneiras de chutar? Com o dorso ou de peito de pé, de bate-pronto ou semi-voleio, de voleio ou sem-pulo, de bico e por cobertura.

Uma rápida explicação sobre cada um deles:

O chute simples: bate-se com o dorso do pé e com a parte interna do pé. Se obedecermos à informação anteriormente descrita, de que a maior superfície de contato do pé de chute na bola interfere na sua direção, logo, será o chute que maior probabilidade de êxito acarretará. Há uma discussão sobre isso, de que não se chuta com a parte interna do pé, que apenas se passa. A meu ver, chuta-se sim. Portanto, o chute simples, pode ser feito com o dorso e com a parte interna do pé.

O chute de bate-pronto ou semi-voleio: chuta-se a bola ao mesmo tempo em que esta toca no chão.

O chute de voleio ou sem pulo: chuta-se a bola ainda no ar.

Ambos, o voleio e o semi-voleio, são chutes refinados e difíceis. Quando do ensino, exigirá do professor um método adequado.

O chute de bico, ao contrário, é o mais fácil. Corre-se até a bola e chuta-se com a ponta do pé. Entretanto, este chute, na maior parte das vezes, por conta da superfície de contato do pé de chute ser pequena, não é muito preciso. No começo, quando pequenas, as crianças chutem bem mesmo é de bico. Com o passar das aulas, com o professor orientando, novos tipos de chute são descobertos.

por último, o chute por cobertura. Chuta-se embaixo da bola a fim de que a mesma ganhe uma trajetória alta.

Algumas orientações são pertinentes para ensinar a chutar:
a) Colocar a bola à frente de si;

b) Levantar a cabeça, a fim de visualizar a meta e o goleiro;

c) A partir de alguns chutes, passar a avaliar o goleiro;

d) Diagnosticar o que ocasiona a trajetória imprecisa do chute e isso tem a ver, como foi visto, com o lugar da bola que se bate na bola;

e) Levar a criança a chutar com ambos os pés;

f) Levar a criança a chutar a bola parada, quicando, em movimento;

g) Levar a criança a chutar de distâncias diferentes - perto, meia-distância, longe - e, por conseqüência, com diferentes intensidades de força;

h) Levar a criança a chutar após um passe, um domínio, um drible, uma condução;

i) Oportunizar a todas as crianças, durante os jogos coletivos, bater um pênalti, ou uma falta de tiro livre direto sem formação de barreira, ou, em um tiro livre direto com barreira, após o primeiro toque;

j) Levar a criança a chutar de posições diferentes - lateral direita, centro da quadra, lateral esquerda;

Habilidade: Passe
O passe só acontece quando há duas pessoas. Passa-se quando um alguém envia a bola para um outro alguém. Em geral passa-se a bola com os pés, mas também pode sair um passe com a cabeça, com o peito, a coxa, o ombro.

Quem ensina a passar faz exatamente isso: leva a criança a passar a bola, de diferentes formas, para um companheiro.

Abaixo, segue uma classificação que permeia grande parte dos livros de futsal de autores brasileiros. Tal classificação foi feita pelo Ricardo Lucena¹ . Segundo o professor, o passe é classificado quanto à distância, à trajetória (altura), à execução (parte do corpo), ao espaço de jogo (quadra) e à habilidade.
Distância Curto - até 4 metros; Médio - 4 a 10 metros; Longo - acima de 10 metros
Trajetória Rasteiro, meia altura, parabólico.
Execução Interna, externa, anterior (bico), solado, dorso.
Espaço de Jogo Lateral, diagonal, paralelo.
Passes de Habilidade Coxa, peito, cabeça, calcanhar, ombro, parabólico ou cavado.
Quando se quer um passe com a trajetória rasteira, deve-se ensinar a bater em cima da bola; quando se quer alto, embaixo e quando se quer meia-altura, no meio.

Para ensinar a passar, algumas dicas:
Orientar a criança a olhar para quem ou onde se quer passar;

b) Imprimir à bola uma força adequada;

c) Se o objetivo for ensinar o passe com a lateral interna do pé ou o passe parabólico, orientar, quando a atividade for com a bola parada, a direcionar a ponta do pé de apoio para onde se passará. Com a bola em movimento, isto não é possível;

d) Passar para companheiros diferentes;

e) Utilizar diferentes faces do pé e do corpo;

f) Passar de diferentes distâncias;

g) Passar dando à bola trajetórias distintas;

h) Introduzir o conceito de que o passe permite que todos participem do jogo;

i) Introduzir o conceito de que o passe é mais rápido do que a condução de bola;

j) Introduzir o conceito de que a equipe que passa bem a bola obterá êxito.

Habilidade: Cabeceio
A exemplo do chute, o cabeceio pode ser ofensivo e defensivo. Mas, ao contrário do chute, mas a exemplo do passe, o cabeceio pode ser cooperativo. Ou seja, quem cabeceia o faz para marcar um gol, para defender a sua equipe ou para passar a bola para um companheiro de equipe. Portanto, quem ensina a cabecear deve prever as três situações, entretanto, mais as de ataque - cabecear contra a meta e cabecear para alguém.

A exemplo do chute e do passe, o cabeceio pode ter diferentes trajetórias, isto é, pode ser em linha reta, para o alto ou em direção ao chão. O local onde se toca na bola determinará as diferentes trajetórias. Cabeceou-se no meio da bola, ela sai em linha reta. Cabeceou-se embaixo da bola, ela vai para o alto. Cabeceou-se em cima, ela desce.

Quem cabeceia pode estar parado ou em movimento. Neste caso, correndo, saltando, se lançando ao chão - aí se diz que, a exemplo do que acontece no voleibol, houve um mergulho (peixinho). Parado ou em movimento, ao cabecear pode-se direcionar a bola para algum lugar - para frente, lateralmente e para trás.

O básico para ensinar o cabeceio é o seguinte:
a) Orientar a criança a acompanhar a trajetória da bola;

b) Orientar a criança a ir ao encontro da bola;

c) Orientar a criança a tocar a bola com a testa;

d) Orientar a criança a manter os olhos abertos;